sábado, maio 22, 2010

Existe alguma esperança para as Testemunhas de Jeová que morrerem antes do Armagedom?


Eu estava lendo Estudo Perspicaz das Escrituras e cheguei na parte sobre a ressurreição. E percebi que existe uma falha terrível no raciocínio da Torre de Vigia (novidade) que se for percebido pelos seguidores dessa religião, pode fazer com que muitos deles caiam fora do barco religioso. O interessante é que muitos não percebem essa falha. Alguns porque estão tão ocupados com a quantidade absurda de leitura e respostas automáticas (as respostas já estão enumeradas nas literaturas) que não tem tempo de raciocinar sobre o que estão lendo. Outros, porque não se pode questionar o corpo governante. Se falaram que é assim, é assim. Se falarem que vacina é prejudicial à saúde, todos vão aderir. Ah, isso já aconteceu. Deixa pra lá. Mas outros simplesmente não percebem essa falha porque falta capacidade cognitiva para isso, seja porque nunca a tiveram, seja porque a leitura em excesso da Sentinela levou a esse estado atrofiado.
Minha tese é simples e responde à pergunta desse post, que é “existe esperança para as Testemunhas de Jeová que morrerem antes do Armagedom?'' Minha tese é: não! Todas as Testemunhas de Jeová que morreram antes do Armagedom não possuem qualquer tipo de esperança. A bem da verdade, todas vão ter exatamente o mesmo destino daqueles que não são Testemunhas de Jeová. Também terão o mesmo destino dos apóstatas e dos mais terríveis dos seres humanos. A bem da verdade, eles serão tratados por Jeová da mesma forma como Jeová tratou Hitler, Mao Tse-tung, Stalin e tantos outros. E todas essas afirmações estão sendo feitas com bases nos próprios escritos da Torre de Vigia. Na verdade, eu estou utilizando o Estudos Perspicaz das Escrituras (EPE), o livro mais parecido com teologia sistemática para uma Testemunha de Jeová (eles não gostam de usar a mesma terminologia do cristianismo, é parte da formação de identidade quando se cria uma seita) e uma edição da revista A Sentinela.
Vamos então explorar o texto e ver como essa afirmação (não há esperança para eles) é uma conclusão lógica dos ensinos da Torre.
Começando com a frase a seguir, retirada de EPE, volume 3, página 436: “Por todas as Escrituras torna-se evidente que não existe nenhuma 'alma imaterial' separada e distinta do corpo. A alma morre quando o corpo morre. Até mesmo sobre Jesus Cristo está escrito que 'esvaziou a sua alma até a própria morte'. Sua alma estava no Seol. Durante esse período, ele não existia como alma ou pessoa. (Is 53:12; At 2:27; compare isso com Ez 18:4; veja ALMA.) Por conseguinte, na ressurreição, não há uma nova junção da alma com o corpo.”
Segundo essa declaração, é crença da Torre de Vigia que quando uma pessoa morre, não apenas seu corpo morre, mas também a alma. A pessoa deixa de existir. Totalmente. Não existe mais nada que possa ser considerado como pessoa. Inclusive a alma. Ou espírito. Absolutamente nada sobrevive à morte. As Testemunhas de Jeová acreditam tão piamente nisso que chegam a ponto de alegar que mesmo Jesus Cristo deixou de existir pelo tempo que se passou entre sua morte e ressurreição. Apesar de ser uma crença contrária às Escrituras (vou tentar escrever sobre isso com mais detalhes em outro momento), vamos aceitar essa crença como se fosse verdadeira por causa do argumento que está sendo apresentado. É nela que a falha reside.
Uma crença também importante das Testemunhas de Jeová é que o próprio Jeová irá ressuscitar aqueles que morreram antes do Armagedom (todos aqueles que eram Testemunhas de Jeová fiéis, além dos que morreram antes do surgimento da Torre de Vigia e mais algumas pessoas). Mas se a pessoa deixou de existir, como então poderá Jeová ressuscitá-las? O parágrafo seguinte de EPE explica essa dúvida:
“Mas será que o velho corpo é reajuntado na ressurreição? Ou trata-se duma réplica precisa do corpo anterior, feita exatamente como era quando a pessoa morreu?...
...Os celestiais recebem um corpo espiritual, pois apraz a Deus que tenham corpos apropriados para o meio ambiente celestial. Mas, àqueles a quem Jeová se agrada em levantar para uma ressurreição terrestre, que corpo Ele lhes dá? Não poderia ser o mesmo corpo, tendo exatamente os mesmos átomos. Se um homem morre e é sepultado, o seu corpo, mediante o processo de decomposição, converte-se em substâncias orgânicas que são absorvidas pela vegetação. Pessoas talvez comam tal vegetação. Os elementos, os átomos daquela pessoa original, acham-se agora em muitas outras pessoas. Na ressurreição, é óbvio que os mesmos átomos não podem estar na pessoa original e em todas as outras, ao mesmo tempo".
Segundo EPE, aqueles que forem ressuscitados no Armagedom não receberão o mesmo corpo, uma vez que aquele foi destruído. Nem mesmo os átomos poderão ser o mesmos. Portanto, é criado um novo corpo para os ressuscitados. Mas isso impõe uma questão interessante: se a alma é igual a vida que é igual ao corpo (no sentido que se um morre, o outro morre, se um deixa de existir o outro deixa de existir) e o corpo antigo foi destruído (assim como a alma) e um novo corpo, com nova vida (e nova alma, por assim dizer) está sendo criada, não seria essa pessoa uma nova pessoa? Como poderia essa nova pessoa que está sendo ressuscitada/criada a mesma pessoa que deixou totalmente de existir no momento da morte? Lembre-se que não existe uma alma/espírito que será introduzida nesse novo corpo. Tudo isso deixou de existir. Aquela pessoa não existe mais. Nenhuma traço dela existe mais. Já que corpo é igual a alma, novo corpo não seria o mesmo que nova alma?
Existe uma tentativa de resposta a esse questionamento na revista A Sentinela de 1 de Abril de 1999, página 18, parágrafo 17:
“Visto que Jeová Deus é infinito em sabedoria e tem memória perfeita, ele pode facilmente ressuscitar alguém. Para ele não é problema lembrar-se do padrão de vida dos falecidos — de seus traços de personalidade, da sua história pessoal e de todos os pormenores da sua identidade”.
A resposta para a questão é simplesmente a seguinte: Jeová irá recriar todos os traços de personalidade da pessoa falecida. Suas memórias, sua história pessoal, sua personalidade, “todos os pormenores da sua identidade.”
É uma boa resposta. Mas que se levada a sério, implica em uma conclusão bastante óbvia: esse novo ser é uma nova pessoa. Não é a mesma. É uma cópia melhorada, mas ainda assim não é a mesma pessoa. É um novo corpo, melhorado, com uma cópia das memórias da pessoa antiga. Mas ainda assim é uma nova pessoa. Não existe continuidade da vida antiga para a nova vida. Como nada daquela pessoa sobreviveu, não existe um material básico sobre o qual a nova vida é constituída. Tudo é absolutamente novo. O corpo “ressuscitado” na verdade deveria ser chamado de clonado, pois é basicamente a mesma coisa. Jeová usa sua memória para recriar a nova pessoa. Tanto o físico quanto a alma. Tudo do zero.
Para ilustrar de forma mais clara toda essa situação: imagine que eu sofra um acidente que me deixe em estado de coma e com poucos dias de vida. E nesse cenário imaginário, a ciência avançou o suficiente para ser capaz de clonar meu corpo exatamente como ele está. Não só isso, também é capaz de gravar em um HD cada uma das minhas memórias, meus pensamentos, tudo o que eu aprendi. Ou seja, cada pormenor da minha identidade, de forma perfeita.
Após gravar todos esses dados e copiar meu DNA, eu vou a óbito. Os cientistas então fazem um clone a partir do meu DNA e transferem todo o conteúdo da HD para o cérebro desse meu clone. Quando ele é despertado, ele pensa, age e reage como eu reagiria nas situações que se apresentassem. Esse meu clone acreditaria piamente que era eu. Mas isso levanta a pergunta: esse clone seria eu? Ou seria uma outra pessoa, com todas as minhas características?
A única conclusão lógica é que é uma nova pessoa, ainda que acreditasse ser eu. Eu deixei de existir. Não experimento mais nada nessa vida. Me clone “pegou o bastão”, por assim dizer, da minha vida da onde eu larguei. Mas é ele quem está vivendo agora, não eu.
E é por esse processo de clonagem que as Testemunhas de Jeová trabalham diligentemente. Todas aquelas que morrerem antes do Armagedom deixarão de existir. Jeová, de acordo com as suas crenças, irá criar um clone de cada uma. Mas será esse clone que irá desfrutar dos benefícios da vida eterna na terra. Não será a pobre Testemunha de Jeová que trabalhou tanto por sua salvação que irá viver para sempre. Será outra pessoa.
Por isso que eu posso afirmar confiantemente, com base nos próprios escritos da Torre de Vigia que não existe esperança para as Testemunhas de Jeová que morrerem antes do Armagedom. Elas trabalham para que uma outra pessoa, um outro ser humano desfrute no futuro.
Elas trabalham em vão.

Ps: para sorte das Testemunhas de Jeová, os ensino bíblico sobre a alma e vida após a morte é bem diferente do que é ensinado pela Torre de Vigia. Assim sendo, existe esperança para as Testemunhas de Jeová, desde que elas abandonem essa religião falsa e sejam salvas pelo verdadeiro Jesus Cristo, aquele que se revelou nas Escrituras. Leia o texto “A pergunta de um milhão de dólares” na lateral dessa página e você verá que existe uma esperança.

Um comentário:

Cleber Tourinho disse...

Amado, sua matéria reproduz fielmente uma das mais angustiantes dúvidas que eu tinha quando era TJ. Cheguei mesmo a criar teorias sobre essa situação, mas tinha medo de conversar com outrem para não ser chamado de apóstata.

Parabéns, meu irmão/amigo. Um dia nos encontraremos (espero que ainda nesse "século") para conversarmos longamente...

Soli Deo Gloria!

Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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