domingo, janeiro 08, 2012

Os Evangelhos do Novo Testamento São Confiáveis? - Podemos Saber o que os Manuscritos Originais dos Evangelhos diziam?




Parte 2 – Podemos Saber o que os Manuscritos Originais dos Evangelhos diziam?

Quando nós abrimos uma Bíblia e procuramos pelos evangelhos, nós os encontramos traduzidos para o português, ordenadamente ajuntados no início do Novo Testamento, completos com nome do livro, número dos capítulos e versículos, pontuação, parágrafos e hoje em dia, normalmente com título nos capítulos e notas de referência. Nada disso estava presente nos manuscritos originais dos escritos que conhecemos como Mateus, Marcos, Lucas e João (sim, mesmo a pontuação não estava presente nos documentos originais). O que encontramos em nossas Bíblias é o resultado do processo de preservação, tradução e publicação. Faz sentido perguntarmos se o que lemos carrega qualquer semelhança com o que os autores dos evangelhos redigiram quase 2000 anos atrás. Podemos saber o que os manuscritos originais dos evangelhos diziam?

Não é incomum atualmente para algumas pessoas responderem “não” para essa pergunta, apesar de quase inevitavelmente, esses céticos não terem a menor ideia do que estão falando. Os críticos do cristianismo muita vezes alegam que os evangelhos como os conhecemos carregam pouca semelhança com os originais. Esse criticismo aparece nos lábios de Sir Leigh Teabing, um historiador fictício em O Código Da Vinci, de Dan Brown. Teabing "revela" a verdade sobre Jesus e o cristianismo primitivo para Sophie, uma ingênua e disposta aprendiz no romance e seu “aprendizado” também reflete o aprendizado dos leitores. Dessa forma tipicamente condescendente, Teabing começa a iluminar Sophie sobre a verdadeira natureza da seguinte forma:

"A Bíblia é um produto do homem, minha querida. Não de Deus. A Bíblia não caiu magicamente das nuvens. Os homens criaram registros históricos de tempos agitados e ela evoluiu através de inúmeras traduções, adições e revisões. A história nunca teve uma versão definitiva do livro." (p. 231)

É claro que existe uma medida de verdade aqui e isso é normalmente o caso com as revelações de Teabing, mas apenas até certo ponto. A Bíblia é realmente um produto humano, mas isso não implica de forma alguma que também não seja “de Deus”. E ela não caiu das nuvens. Mas, ao contrário do que diz Teabing, a Bíblia não “evoluiu através de várias traduções, adições e revisões. Ela foi na verdade traduzida para mais de 2000 idiomas – muito mais do que qualquer outro livro – e tem sido lançada com uma miríade de adições. Mas essas traduções e adições são todas baseadas nos mesmos documentos básicos antigos, como eu vou mostrar em seguida. A parte “evoluiu através de inúmeras traduções” é ficção.

Os evangelhos originais foram escrito em algum momento na segunda metade do primeiro século d.C. (Eu vou falar mais sobre as datações dos evangelhos mais tarde nessa série) Muito provavelmente foram escritos em rolos ou papiro (um material áspero parecido com papel). Mas é altamente improvável que qualquer um desses originais (conhecidos pelo termo técnico “autógrafos”) ainda existam hoje. Eles provavelmente foram gastos pelo uso, perdidos, destruídos, reusados ou mesmo comido por animais.

Ainda assim os antigos tinham uma maneira de preservar a informação contida nesses rolos: cópias. Escribas treinados copiavam as palavras de um documento para um novo documento. O treinamento que recebia os ensinava a minimizar os erros e maximizar precisão. Ainda assim, esse não era um trabalho servil, porque havia momentos em que os escribas faziam alterações em suas cópias (por exemplo, quando eles acreditavam que suas fontes continham um erro). Mesmo os melhores escribas, no entanto, cometiam erros não intencionais.

Portanto, o fato que os manuscritos dos evangelhos não sobreviveram até os dias de hoje, combinado com o fato que por séculos o texto foi transmitido através de um processo de cópias, pode levar uma pessoa a questionar se podemos confiar que o texto em grego dos evangelhos que temos hoje se parecem de alguma forma com aquilo que os autores originalmente escreveram.

A resposta para essa pergunta é um entusiástico “sim”. Apesar de não podermos ter completa e absoluta certeza que cada palavra nos manuscritos gregos que temos reproduzem com precisão o que foi originalmente escrito, podemos ter confiança que estamos muito perto disso na maioria dos casos. Deixe-me explicar.

Primeiro, temos bem mais do que 2000 manuscritos gregos dos evangelhos (e outras traduções antigas como latim). Comparado com outros escritos antigos, isso é uma verdadeira riqueza de material. Os estudiosos dos clássicos são muitas vezes forçados a confiar em um punhado de manuscritos de textos antigos, enquanto os estudiosos dos Novo Testamento são sobrecarregados com material primário.

Esse é o p52, o mais antigo fragmento do Novo Testamento. (O 'p' é para papiro, o material do fragmento.) Ele foi datado cerca de 125 d.C. O texto é do Evangelho de João, que foi escrito por volta de 90 d.C. Então o espaço entre o original e essa cópia é de 30-50 anos. No texto lê-se (traduzido, as letras em negrito representam o que está no p52): Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma. (Para que se cumprisse a palavra que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer). Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus? (João 18:31-33).

Segundo, muito dos manuscritos dos evangelhos são bem antigos e portanto confiáveis. Temos alguns fragmentos de papiros e documentos dos evangelhos que datam do segundo século d.C., com mais do terceiro século. Manuscritos inteiros dos evangelhos e do resto do Novo Testamento podem ser datados do quarto e quinto séculos. Bem, isso pode parecer como um espaço significativo de tempo entre a escrita dos evangelhos e os manuscritos que temos, mas em comparação com outros escritos gregos antigos, os documentos do Novo Testamento estão em um nível totalmente diferente. Por exemplo, os manuscritos mais antigos que temos de Heródoto (século 5 a.C. Historiador grego), Platão (século 4 a.C. Filósofo grego) e Josefo (século 1 d.C. Historiador judeu) são no mínimo mil anos mais recentes que os escritos originais.

Terceiro, apesar do processo de copiar documentos antigos não ser infalível, como eu expliquei acima, ele era na verdade bastante confiável. Mais ainda, como os acadêmicos contemporâneos entendem esse processo e como temos muitos textos do Novo Testamento, os estudiosos são capazes de identificar erros dos escribas e mudanças com um grande nível de probabilidade.

Quarto, a disciplina da crítica textual – pela qual os especialistas procuram identificar a forma mais antiga do texto – é a mais objetiva das disciplinas do Novo Testamento e portanto oferece os resultados mais corretos. Apesar de alguns acadêmicos da crítica textual discordarem sobre algumas passagens, a quantidade de concordância entre os diversos críticos é excepcional, diferente do que se encontra em outras disciplinas do Novo Testamento, como exegese, por exemplo. Isso não necessariamente significa que sempre chegamos aos autógrafos originais, mas significa que podemos ter uma nível altíssimo de confiança nas descobertas da crítica textual.

Este é p66, que é chamado de Papiro Bodmer. Ele data de cerca de 200 d.C. O texto é João 1:1-13, mais a primeira palavra do versículo 14. Como você pode ver, existem muitas outras páginas neste papiro.

Quinto, apesar de existirem alguns versículos nos evangelhos (menos de 3%) nos quais algumas palavras podem ainda serem incertas, a grande maioria dos versículos nos nosso textos críticos refletem os escritos originais ou algo muito próximo disso. Ademais, as palavras questionadas são quase sempre triviais. A única exceção que eu me lembro é o final do evangelho de Marcos, que não temos certeza sobre a originalidade de tudo depois de Marcos 16:8. A maioria das traduções coloca os versículos posteriores entre colchetes. Essa passagem é aquela na qual Jesus promete que seus discípulos falarão em línguas e serão imunes à cobras peçonhentas ou venenos mortais. Um bom número dos Cristãos Apalachianos literalmente arriscam suas vidas em uma passagem que talvez não seja parte do evangelho de Marcos original. Se você não for do tipo que gosta de lidar com cobras no entanto, você não precisa se preocupar com a autenticidade dessa passagem.

Tudo isso quer dizer que quando você lê os evangelhos do Novo Testamento, está quase que certamente recebendo as palavras do autor original (na tradução, claro, a não ser que você leia grego). Podemos saber o que os manuscritos originais dos evangelhos realmente diziam? Sim, com um nível muito alto de confiança. Isso não garante a veracidade por parte dos autores do evangelhos, é claro. Eu vou começar a abordar esse tópico no meu próximo texto.

Parte 3 – Quando os Evangelhos do Novo Testamento Foram Escritos? (em breve)

Copyright © 2005 by Mark D. Roberts

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Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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