quarta-feira, junho 30, 2010

José Saramago: de relativista a pregador em menos de 5 minutos


Estávamos vendo a entrevista que Marília Gabriela fez com o escritor português José Saramago em 1999. Essa entrevista foi reprisada devido a recente morte do escritor.
Como Saramago era um ateu convicto, uma das perguntas feitas foi sobre religião, ou melhor, sobre a implicância de Saramago com a religião e ele disse que não tinha implicância alguma, mas somente com a questão do poder que está ligado a religião. Interessante que Saramago não tinha problema algum quanto esse poder estava na mão de governos socialistas (e seu sonho era que Portugal se tornasse uma nação socialista), mas esse é um ponto a ser explorado posteriormente.
Como homem muito inteligente que era (apesar da irracionalidade do ateísmo), Saramago fez um movimento muito interessante durante a entrevista que é usado quando se quer defender um ponto religioso sem parecer que se está defendendo. Via de regra é um movimento perigoso que alguém mais esperto pode usar contra a própria pessoa. É o chamado movimento “Papa-léguas”, igual nos desenhos da Warner. O Papa-léguas está correndo, o coiote atrás. Aí quando chega em um desfiladeiro, o Papa-léguas para abruptamente e o coiote continua, sem perceber que não existe mais chão embaixo de seus pés. Quando percebeu que está com os pés no ar, ele cai uma longa e dolorosa queda que culmina com a pequena nuvem de fumaça no fim do desfiladeiro. Teria sido fácil mostrar para Saramago que seus pés estavam sendo sustentados pelo nada.
Voltando a resposta, Saramago começa a dizer que para ele Deus não existe. Existe para outras pessoas, mas para ele não existe. Talvez seja verdade para outras pessoas, mas não para ele. Ao ouvir uma resposta dessa, podemos pensar que o escritor português é um relativista, que não acredita que existe verdade, pelo menos no que se refere a religião. Também diz que na chegada dos portugueses ao Brasil, a celebração da primeira missa é uma forma de imposição, de dizer que as crenças dos índios estavam erradas e que não deveriam ter feito isso. Era uma forma de dizer que os deuses dos índios não existiam. Saramago dá uma conotação bastante negativa para essa atitude dos descobridores.
Mas aí, em uma atitude totalmente “coiote atrás do Papa-léguas”, Saramago passa a fazer exatamente aquilo que condenou os descobridores portugueses por fazer: ele passa a dizer que o Deus judaico-cristão não existe, que não existe alma, que a única coisa existente é o material, o que se pode observar e que tem a mais absoluta certeza que Deus não existe e que também não haverá julgamento vindouro.
Se foi errado da parte dos portugueses das caravelas negar os deuses indígenas, também não seria errado da parte do português da escrita negar o Deus judaico-cristão? O que os diferencia? 500 anos?
O único argumento, ou algo que se aproximasse disso, apresentado por Saramago para questionar a existência de Deus foi o tamanho do universo. Ele disse que existem corpos celestes a milhões de anos-luz daqui. O universo é enorme. Onde estaria Deus nesse universo? Em lugar nenhum, conclui ele.
Nos chamou a atenção que o tamanho do universo poderia muito bem ser usado como um argumento (fraco, na minha opinião) para a existência de Deus. Como o universo é tão absurdamente grande, é impossível que não exista um ser superior que poderíamos identificar como Deus em algum lugar por ai. Mas eu não penso assim. Na verdade, Deus jamais poderia ser encontrado no meio do universo, pois por definição, o Deus cristão é imaterial. Ele é espírito. Não pode ser visto.
É claro que Marília Gabriela não apontou essas inconsistências na resposta de Saramago, mas como poderia? Seja por não ter percebido, seja porque isso acabaria com a entrevista ali, o escritor pode continuar sua divagação sem maiores problemas.
Mas é importante notar que mesmo o mais culto entre nós é totalmente passível de ser pego em um movimento “Papa-léguas” e negar aquilo que afirmou duas frases antes.
Toda visão de mundo tem suas anomalias, suas dificuldades e pontos difíceis de explicar. Até mesmo o cristianismo. Mas quando comparados, o cristianismo vence o materialismos de Saramago de goleada (copa do mundo influencia até nosso linguajar).
Infelizmente, poucos de nós estamos prontos a apresentar desafios para essas visões de mundo concorrentes.
José Saramago morreu no último dia 18 de Junho. Todas essas questões foram agora resolvidas para ele. Para nós, cristão, isso traz um pesar. Mas confiança na soberania e graça de Deus. Somente Ele sabe realmente o destino final do homem. José Saramago agora sabe o seu próprio destino.

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Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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