sexta-feira, junho 29, 2007

Dicas para pregar para os que não são da igreja

Sempre recebemos uma newsletter de um famoso pastor americano, acredito que o mais famoso no momento. São dicas sobre o ministério pastoral. Tanto que o newsletter é nomeado “Ministry Toolbox” (caixa de ferramentas do ministério).
Mas o último deles me chamou a atenção. Havia um artigo intitulado Tips on preaching to the unchurched (dicas de pregação para os que não são da igreja).
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o uso da palavra unchurched. Não temos, até onde eu saiba uma palavra que tenha o mesmo significado, ou seja, aqueles que não são da igreja. Não podemos traduzir por não salvos, porque não é essa a idéia da palavra e também porque em inglês já existe essa expressão (unsaved). Nem mesmo podemos chamá-los de não cristãos, já que essa expressão também já existe em inglês (non-christians). O uso dessa palavra especificamente traz uma conotação que o mundo é dividido entre os “da igreja” e os “não da igreja”, talvez paroquianos, ou não-paroquianos. Nada sobre salvação. Nada sobre o reino de Deus. Mas somente sobre trazer as pessoas para a igreja. E pelo texto, eles usam a palavra igreja como templo, não como o corpo místico de Cristo. Só pelo começo, um alarme disparou dentro de mim “danger Will Rosbson, danger”.
A primeira dica é fazer um folheto com os versículos bíblicos que serão usados na mensagem. Assim, os não-paroquianos não se sentirão embaraçados por não possuírem uma bíblia e também não haverá perda de tempo procurando-se um texto nas escrituras. Esse pastor comenta que perde-se um tempo valioso durante a mensagem procurando versículos na bíblia.
Eu até vejo um lado pragmático nessa dica, mas sinceramente, não posso concordar. Os cristãos devem levar suas bíblias para a igreja e devem verificar cada versículo bíblico pregado, devem confirmar se é isso mesmo o que diz a Palavra e verificar o contexto. Se o rebanho acha que não precisa mais levar a bíblia para a igreja porque o pastor já providencia os textos que serão lidos, o rebanho jamais poderá conferir quando o pastor fala algo que não esta de acordo com o texto ou com o contexto. E eu posso garantir que já vi muito isso na minha vida.
A segunda dica “você deve planejar o título da sua mensagem de uma forma que seja atraente para os não-paroquianos”. Ele usa como exemplo alguns anúncios de sermões feitos por igrejas em jornais, como “A estrada para Jericó”, “Pedro vai pescar”, “Rio de sangue” e coisas da tipo. Para ele, esses títulos em nada criam interesse nos não-paroquianos em vir à igreja. Ele diz que tem sido criticado porque os títulos de seus sermões parecem mais títulos de artigos da revista Seleções. Mas é intencional, declara nosso famoso pastor.
Algo que ele esquece é que é óbvio que os não-cristãos (que aparentemente ele chama de não-paroquianos) não vão querer ouvir a Palavra de Deus. Somente os cristãos têm sede e desejo pela palavra. E a grande chave esquecida durante todo o texto é que o culto de adoração é para os cristãos! Ninguém pode adorar a Deus sem ter nascido de novo. E ninguém pode ter apreço pela palavra de Deus sem ter nascido de novo. O que esse pastor esta tentando fazer é confiar no poder do marketing e da persuasão ao invés de confiar no poder do Espírito Santo e no poder da Palavra, que é poder de Deus para salvação.
Uma outra dica é que “você deve pregar sistematicamente em séries”. Ele acredita que pular de uma série como “o que Deus pensa sobre sexo” para “desmascarando a besta do Apocalipse” pode criar membros esquizofrênicos.
Eu tenho uma ótima solução para isso. Pregação expositória. Você começa a pregar em Gênesis 1:1 e vai até Apocalipse 22:21. Problema resolvido. Mas por que ninguém quer fazer isso hoje em dia? Porque não é legal! Não é apelativo aos não-paroquianos.
É muito engraçado. Pegue um assaltante e coloque-o sentado em uma cadeia e comece a ler para ele o código penal, o mesmo código que traz condenação sobre ele. Ele vai gostar? Ele vai querer? Isso é algo atraente para um assaltante? Claro que não. Pois é exatamente isso o que acontece com os não-cristãos. Eles não têm prazer na Palavra de Deus exatamente pelo seu conteúdo.
Eu me lembro de ouvir um sermão do John Macarthur sobre o texto de 1 Timóteo 5:3. Ele prega de forma expositória. Quando ele chegou nesse texto, ele comentou o título da mensagem “As viúvas na igreja”. Ele mesmo comentou que não é um título muito apelativo, mas, como a igreja conheceria a vontade de Deus sem passar por toda a sua palavra? Eu ouvi esse sermão, e foi um dos mais fantásticos que eu já ouvi. Bom, eu sempre falo isso quando ouço ou leio algo do John Macarthur. Os grande reformadores (Calvino, Lutero e muitos outros) restabeleceram a idéia de Sola Scriptura (somente as escrituras) e isso é algo tão forte entre eles que eles pregavam de forma expositória para não deixar de pregar nada que esta na palavra e principalmente, para não ficar pregando suas próprias idéias. Seria muito sábio que todos os pastores que servem à igreja de Cristo retomassem essa prática.
E a ultima dica que vou comentar (ainda tem mais uma, mas essa é irrelevante) “você deve escolher seus pregadores convidados de forma muito cuidadosa”. E por que nosso famoso pastor diz isso? Preocupação com a possibilidade de uma heresia ser ensinada ao rebanho? Não, nada disso. O real motivo é que um pregador pode estragar um trabalho de meses feito com um não-paroquiano (meses? A pessoas esta indo aos cultos há meses e ainda não se converteu? Opa, não tem nada a ver com conversão, mas sim se tornar membro da congregação. Eu me esqueci, desculpe), quando essa pessoa esta baixando a guarda e esse novo pregador confirma os piores medos da pessoa sobre a igreja e vai embora. Esqueçam o Espírito Santo. Esqueçam os motivos para a verdadeira conversão. O importante é que a pessoa se sinta confortável durante o culto e veja o quanto nós somos legais! Se a pessoa vai para o inferno? Desculpe, não lidamos com esse assunto nessa denominação. Isso afasta os não-paroquianos. E pelo jeito até os paroquianos.
O grande problema dessa abordagem do cristianismo é que tira o foco sobre Jesus e o coloca sobre as pessoas. O próprio texto fala em se pregar focado nas necessidades das pessoas. E isso é errado. Devemos pregar as Escrituras, porque a grande necessidade das pessoas é salvação! Pouco importa além disso.
E a mais triste constatação que vemos no texto é que esse pastor, que tem sido um guia para a grande maioria das denominações nos Estados Unidos e no mundo, tem como objetivo converter as pessoas à igreja, à denominação, não à Cristo. Esse é resultado da igreja evangélica moderna, que quer ver resultados. Eu abro mão da obra do Espírito Santo, me agarro a técnicas de marketing e encho os bancos da minha congregação. Isso dá resultados. Não ser fiel. Não deixar os resultados para Deus. Não pregar os mandamentos de Deus, sejam eles agradáveis ou não. Eu faço, eu comando, eu dirijo.
Esse acaba sendo o propósito dessas igrejas.
Essas igrejas têm um propósito, pena que ele não seja bíblico.

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Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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