terça-feira, dezembro 27, 2011

Poderia um universo causar a si mesmo?




Eu esbocei o texto que se segue a pedido da Christian Apologetics Alliance (Aliança Cristã Apologética) que está compilando uma série de artigos de respostas a objeções ao teísmo. Apesar de existir aqui uma sobreposição da minha revisão do livro de coautoria de Stephen Hawking “The Grand Design”, o presente artigo é mais adequado como uma resposta mais sucinta e específica para qualquer um que argumente contra a criação divina.

Objeção: “Tem sido mostrado nos dias de hoje que o universo causou a si mesmo ao invés de ter vindo à existência por qualquer outra coisa.”

Chaves de referência no final do artigo.

A objeção é necessariamente falsa já que o máximo que a ciência poderia dizer a respeito disso é que “o universo talvez tenha causado a si mesmo...”. Se isso aconteceu ou não, não está aberto ao questionamento científico. No entanto, mesmo esse “talvez tenha” afirmado permanece totalmente sem embasamento e é logicamente incoerente, como eu vou tentar demonstrar abaixo. Mas antes, vamos ser claros em relação aos fatos.

Até o início do século 20 a maioria dos cientistas acreditava que o universo sempre existiu. Mas essa visão foi destruída por duas descobertas, uma teórica e outra experimental. O desenvolvimento experimental foi a teoria geral da relatividade de Einstein que implicava que apenas um universo que estivesse em expansão (ou encolhimento) poderia ser estável. Einstein, de fato, inseriu um “fator lorota” arbitrário em sua equação para permitir um universo estático, mas mais tarde se retratou [WMG p.100]. A descoberta experimental foi que o universo de fato estava se expandindo, evidenciado pela desvio gravitacional para o vermelho nos espectros de galáxias distantes [WMG pp. 101-102]. Isso então implicou que o universo tinha de fato um começo que pode ser representado como uma singularidade (uma situação na qual certas grandezas físicas se tornam infinitas – nesse caso temperatura e densidade). Esse singularidade implicada ficou conhecida como a origem quente “Big Bang” do universo e hoje é geralmente aceita pelos cosmologistas. Observações mais recentes da toda presente “radiação cósmica micro-ondas de fundo” provê evidências confirmatórias desse modelo da origem cósmica (ou cosmogênesis) [WMG pp. 102-103].

Desde essa época, alguns cientistas tem avançado teorias engenhosas (estritamente hipotéticas) na tentativa de evitar a implicação teológica de uma criação como a do big bang – mais recentemente Victor Stenger nos EUA e Stephen Hawking no Reino Unido. Basicamente, eles afirmam que os modelos científicos/matemáticos podem explicar como o universo pode ter surgido espontaneamente do nada (ex-nihilo) pela operação de leis naturais sem a intervenção de um criador natural [Stenger, Hawking]. No entanto, seu raciocínio é seriamente falho nos seguintes pontos:

1. É importante entender que a ciência não pode explicar nada que não seja em termos de leis da natureza. A ciência funciona primeiro pela descoberta (pela observação) de leis que descrevem as ações da natureza e então usa esse conhecimento para buscar mais explicações – começando com hipóteses e então confirmando essas hipóteses através de vários testes, o principal deles sempre sendo um experimento de verificação repetível. Para se oferecer uma explicação científica de qualquer coisa é sempre necessário apelar à leis já existentes (ou ao menos para uma hipótese plausível). Sem lei, sem ciência; simples assim.

2. Para explicar a origem do universo cientificamente, portanto, requer-se um apelo as leis da natureza (estabelecidas ou hipotéticas) que existiam anteriormente ao universo. Mas as leis da natureza não são nada mais do que descrições de como a natureza opera. Ninguém nunca propôs uma lei da natureza que não envolvesse a existência de entidades naturais, sejam elas matéria, energia, tempo-espaço ou sistemas matemáticos (Veja que a matemática é indiscutivelmente filosófica ao invés de científica e é apenas cientificamente relevante quando aplicada às realidades naturais – ou seja, ao mundo como ele existe).

3. Isso cria um dilema; as leis da natureza não podem existir sem a própria natureza existir mas a origem da natureza não pode ser explicada cientificamente sem leis pré-existentes. A conclusão lógica é que a ciência não pode, por sua própria natureza, explicar a origem do universo.

4. A única alternativa é que as leis da natureza pré-existiam em relação ao universo como um tipo de diagrama em um algum tipo de meio não material como a “mente de Deus”.

5. Stephen Hawking falha nesse dilema ao afirmar que o universo foi criado como resultado de flutuações mecânicas quânticas (em um vácuo) que se estabilizou pelas forças gravitacionais [Hawking pp. 131-135; Hawking review]. Ele então requer que as leis da mecânica quântica e da gravidade pré-existissem em relação ao universo (mais para frente ele parece fazer as mesmas afirmações em relação à chamada Teoria-M). Mas o que é a lei da gravidade se não uma descrição da forma como os corpos materiais interagem – seja um com o outro ou com o continuum espaço-tempo? Afirmar que tal lei existia na ausência de matéria, energia, espaço ou tempo é forçar a credulidade e é impossível de ser demonstrada. Apenas argumentos do tipo “a mente de Deus” e “diagramas não materiais” sobram no final das contas e esses são argumentos teológicos, não científicos.

6. Victor Stenger parece reconhecer esse problema e tenta superá-lo propondo que as leis da natureza primeiro criaram a si mesmas do nada e então estavam disponíveis para criar o cosmos. Suas exatas palavras são: “Então de onde as leis da natureza vieram? Elas vieram do nada!... [elas] se seguiram das simetrias vazias das quais o universo espontaneamente apareceu” [Stenger p.131]. No entanto, “simetrias” são propriedades atribuídas pelos cientistas às leis e/ou fenômenos de ordem natural; elas não existem a parte do cosmos que descrevem. Qualquer vazio que possui simetria, portanto, deve por definição estar dentro do universo e não pode dar origem a ele. Por exemplo, pode-se discutir que o espaço-tempo possui simetria para que um vácuo dentro do cosmos também exibisse simetria. Mas qualquer vazio que estivesse fora do espaço-tempo não poderia ter simetria ou qualquer outra propriedade física – e não poderia ser conhecida por fazer tal coisa

7. Conclusão: tentativas para explicar a origem do universo como um evento espontâneo ocorrido em um “vazio” pré-existente falha tanto o teste da ciência quanto da lógica.

Referências
  • ‘Stenger’; Victor J. Stenger, God, the failed hypothesis (New York, Prometheus Books, 2007)
  • ‘Hawking’; Stephen Hawking and Leonard Mlodinow, The grand design; new answers to the ultimate questions of life (London, Bantam Press, 2010)
  • ‘WMG’; Edgar Andrews, Who made God? Searching for a theory of everything (Darlington, 2009)
  • ‘Hawking review’; Edgar Andrews, God, black holes and Stephen Hawking (review of The grand design on www.whomadegod.org)  

Um comentário:

Marcos Zamith disse...

Supor que o universo seja a causa de si mesmo é, além de ilógico, uma tentativa desesperada de, por um meio ou por outro, negar a existência de Deus, Criador do universo.

Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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