Na quinta-feira, várias pessoas no trabalho estavam comentado que acordariam bem cedo para assistir ao casamento do príncipe William of Wales com Catherine Middleton. Eu estava achando que tudo seria uma perda de tempo e não tinha a menor intenção de fazê-lo. Mas como nós tínhamos que acordar cedo de qualquer jeito para trabalhar, aproveitamos para assistir partes do casamento enquanto nos arrumávamos para o trabalho. Foi uma grata surpresa, que me inspirou a escrever sobre a cerimônia. Eu vou focar na questão espiritual e nas mensagens pregadas tanto pelo Arcebispo da Cantuária Rowan Williams quanto pelo Bispo de Londres Richard Chartres.
Eu acredito que a Vivian possa depois trazer outras perspectivas também sobre o casamento, especialmente por ela ser não somente fotógrafa quanto também estilista. Na verdade, foi a própria Vivian quem desenhou e acompanhou a confecção do seu vestido de noiva. Ainda assim, tudo o que vamos escrever aqui foi conversado entre nós ontem entre uma refeição e outra.
Os últimos anos tem sido uma temporada de casamento de nossos amigos mais próximos. Como estamos todos com idade próxima dos trinta anos, os namoros vão se transformando em noivados e depois casamentos. Só nesse ano estivemos em dois casamentos de amigos próximos. O tem sido assim nos anos anteriores. Temos então ouvido vários sermões, em diferentes igrejas, sejam protestantes (em sua maioria) ou mesmo cerimônias católicas. Algumas mensagens foram boas, outras foram horríveis, mas algo que parece ser constante em muitos dos casamentos que vimos é um foco na vida pós-casamento, na vida familiar, no cotiano. A leitura da Bíblia estava lá, os hinos estavam lá, todo mundo agradecendo a Deus, tudo estava lá. Mas parecia que faltava algo. Algo que sempre me incomodou pela sua falta nas cerimônias de casamentos que participamos. Algo que me parecia tão claro nas Escrituras em relação ao casamento que pareceria óbvio que todo ministro cristão deveria citar, deveria proclamar. Mas isso não acontecia. Eu encontrei essa algo que faltava no casamento que me parecia menos provável de ser encontrado, o casamento real. Estava lá: adoração a Deus através da celebração do casamento.
Quem assistiu ao casamento e entendeu o que estava sendo falado, ou leu o programa do casamento, pode perceber vários elementos do casamento que tinham em foco não somente a celebração do casamento entre dois jovens, mas especialmente, adorar a Deus como igreja. A Igreja Anglicana é a religião oficial da Inglaterra, tendo o monarca como Chefe da Igreja. No momento atual, a Rainha Elizabeth II ocupa esse cargo. Mas exatamente por ser uma religião oficial, via de regra se espera uma coisa muito mais protocolar do que espiritual. O protocolar estava lá, mas o espiritual também.
Minha primeira surpresa foi com a mensagem do Arcebispo da Cantuária Rowan Williams. Apesar do Dr. Williams ser favorável à ordenação de ministros homossexuais na Igreja Anglicana, ele acertou quando simplesmente leu a solenização do matrimônio do Livro de Oração Comum da Igreja*. É uma mensagem padrão, que aparentemente permanece inalterada desde de 1662. Ainda bem. A mensagem é tão linda, tão bíblica, que não precisa ser alterada. É exatamente o que eu sempre pensei que deveria ser pregado nas mensagens de casamento, mas raras vezes isso aconteceu. O mais interessante é que eu nunca tinha lido o texto do Livro de Oração Comum até o casamento. Os ministros responsáveis pela celebração dos casamentos fariam bem em estudar esse texto e talvez até incorporá-los na cerimônia. Eu não vou traduzir nesse momento todo o texto, mas a parte que mais me chamou a atenção diz assim:
“Amados, estamos reunidos aqui na presença de Deus e perante essa congregação, para unirmos esse homem e essa mulher em Santo Matrimônio, que é um estado honrado, instituído pelo próprio Deus, significando para nós a união mistica entre Cristo e a sua Igreja; em tal santo estado Cristo adornou e embelezou com sua presença, e no primeiro milagre que ele `lavrou, em Caná da Galiléia, e é recomendado em Santo Decreto a ser louvável entre todos os homens; e não deve portanto ser tomado ou realizado por ninguém de forma imprudente, levianamente ou injustificadamente, mas reverentemente, discretamente e sobriamente e no temor de Deus, devidamente considerando as causas pelas quais o Matrimônio foi ordenado.”
O ponto mais importante para mim nesse texto é a analogia do casamento que existe entre Cristo e Igreja. Esse é o ponto chave do casamento. Quando nos casamos, estamos mostrando para o mundo que existe uma união mística entre Cristo, o noivo, e a sua Igreja, a noiva. É isso que todo noivo deve ter em mente quando está se casando. É isso que toda noiva deve ter em mente quanto está se casando. Eles não estão só se cansado, estão também mostrando algo importante para o mundo. Quando o mundo olha para nós como casais, ele deve ver como o marido (representando Cristo) cuida e trata sua esposa e essa, por sua vez (representando a Igreja) cuida e se submete ao seu marido, assim como a Igreja se submete a Cristo. E o marido deve amar sua esposa até a morte, assim como Cristo amou a igreja até a morte. Assim como não se separa Cristo de sua Igreja, o marido também não se separa de sua esposa. Esse é o fundamento bíblico para o casamento. Infelizmente, ele é tão pouco citado nas mensagens que temos ouvido por aí. Ultimamente, o que tenho mais visto é uma bobagem sobre palavra empenhada que não possui fundamento nas Escrituras, além de ser vago e moralista. Eu não sei por que trocamos uma mensagem tão linda quanto a analogia de Cristo com a sua Igreja por uma outra que é feia e estranha às Escrituras. Mas como eu gostaria que tal mensagem fosse restaurada ao seu devido lugar no casamento. Se você que está lendo esse texto celebra casamentos, por favor, pense sobre isso. Trazer Cristo e a Igreja como analogia para o casamento não só mostra um fundamento bíblico para os noivos, quanto também exalta ao nosso Senhor, pois o estamos adorando através da proclamação do evangelho.
O foco de todo casamento deveria Cristo. A obra de Cristo. O que Ele fez e faz pela Igreja. Eu tenho a mais absoluta certeza que se todo marido cristão tivesse muito bem guardado em seu coração que ele representa Cristo no casamento e deve lidar com sua esposa como Cristo lida com a Igreja, os casamentos seriam muito diferentes.
A celebração desse casamento não teve apenas o Arcebispo da Cantuária, mas também o Bispo de Londres, Richard Chartres, apresentou uma linda homilia para os noivos. O Bispo Chartres, entre outras coisas, disse o seguinte:
“De certa forma, todo casamento é real com a noiva e o noivo como rei e rainha da criação, começando uma nova vida junto para que a vida possa fluir para o futuro.
William e Catherine, vocês escolheram se casar perante um Deus generoso quem amou tanto ao mundo que se deu por nós na pessoa de Jesus Cristo.
E no Espírito desse Deus generoso, marido e esposa devem se entregar um ao outro”.
O casamento é sempre celebrado na presença de Deus. De um Deus generoso. Essa mesma generosidade deve ser concedida um para o outro. Como reis e rainhas da criação (e aqui eu acho que o Bispo Chartres bebeu profundamente da fonte de C. S. Lewis), temos no casamento não somente as nossas necessidades atendidas, mas também um papel importante de representação do Reino de Deus. Tudo começa com Cristo e tudo termina com Cristo. Lindo.
Outros elementos da cerimônia também buscaram colocar o seu foco na adoração à Deus. Por exemplo, quando o irmão de Kate, James Middleton leu Romanos 12:1, 2, 9-18:
“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros; não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; acudi aos santos nas suas necessidades, exercei a hospitalidade; abençoai aos que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis; alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram; sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altivas mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios aos vossos olhos; a ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas dignas, perante todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”.
Ora, quem lê Romanos em seu casamento hoje em dia? Romanos é um dos nossos livros preferidos na Bíblia, tanto pela seu conteúdo doutrinário quanto pelo riqueza dessa doutrinas.
Além desse texto, os hinos tocados buscavam exaltar o nosso Deus em sua plenitude. Entre os hinos, temos Love Divine, All Loves Excelling, de Carlos Wesley, Jerusalem, de William Blake e Guide me, O Thou Great Jehovah, de William Williams. E claro, meu hino favorito, God Save our Queen. Tudo bem, esse último na verdade é o hino nacional, mas eu gosto dele. Aprendi de tanto ver os jogos de rugby da seleção inglesa.
Muitos elementos do casamento real buscavam adorar a Deus. Eu não sei se os noivos são realmente cristãos. A bem da verdade, tenho minhas dúvidas sobre isso. Mas tenho que tirar meu chapéu. A cerimônia foi espiritual e biblicamente rica. Pode ser mais por tradição que tantos acertos foram feitos. Isso não muda o fato que esses acertos foram feitos.
Gostaríamos muito de ver mais e mais elementos de uma verdadeira adoração bíblica nos casamentos. Mesmo que os celebrantes tenham que usar textos antigos e abrir mão um pouco da criatividade em seus textos. É melhor ser bíblico do que tentar inventar e passar longe do alvo. Além do mais, pelo o que temos visto nos casamentos, as mensagens já são padronizadas de qualquer jeito (tem uma história de frango/pão que todo mundo conta), então, porque não padronizar por cima?
Cristo deve ser sempre o principal foco de todo o casamento.
*Nós temos um livro de oração que é o nosso favorito, o The Valley of Vision, com várias orações puritanas. É muito bom e a sua leitura tem nos ajudado e elevar o nível e profundidade das nossa próprias orações. Mais um hábito que seria salutar no meio protestante/evangélico.
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