A pobreza e
a existência dos pobres é o maior sinal de que o projeto original de Deus foi
subvertido pela injustiça humana.
Pobreza é
fruto da injustiça. É uma ameaça à vida.
A
espiritualidade de Jesus, é a espiritualidade da vida com abundância para
todos, é a espiritualidade que dá vida para que outros tenham vida.
Essa frase
foi publicada ontem no Facebook por um deputado estadual que está em franca
campanha para promover sua esposa como candidata a vereadora. Ele também é
pastor evangélico de uma igreja com uma boa representatividade na cidade de São
Paulo. Já que é ano de eleição, eu pretendo escrever alguma coisa sobre
políticos pastores ou pastores políticos, ou algo assim. A questão de pastores
se tornarem políticos se tornou tão corriqueira e natural que pouca reflexão se
tem dado ao assunto. Mas esse assunto fica para outro dia. O que eu quero
desafiar é a veracidade da aceitação acima. Será que a pobreza é o maior sinal
que o projeto de Deus para a humanidade foi subvertida? O plano original de
Deus para o homem era a riqueza? O subverter do plano de Deus foi a injustiça
humana? A pobreza é fruto da injustiça?
Em ano de
eleição, frases de efeito são importantes, até porque elas ofuscam a costumeira
falta de plano dos candidatos. Isso acontece com todos os candidatos, sejam
eles evangélicos ou não. Mas o quanto eles deveriam deixar que o marketing
eleitoreiro influenciasse a sua teologia? O que deveria nos informar sobre os
planos de Deus e o que aconteceu com ele? A política? A sociologia? Filosofia
talvez? Ou devemos nos ater ao que a Bíblia diz sobre o assunto e nos informar
através dela?
O
raciocínio acima parte do princípio que a pobreza é o mal maior a ser
erradicado. Ele parte do princípio que o plano original de Deus para o homem
era a riqueza e que ninguém deveriam ser pobre. Que a causa da pobreza é a
injustiça. Com Jesus é colocado na frase, a única conclusão lógica é que a
principal obra de Jesus no mundo seria erradicar a pobreza. Admito que isso não
é afirmado na frase acima, mas todo o resto o é. Ora, se o objetivo maior do
plano de Deus é que o homem não seja pobre (seja rico, tenha em abundância) e
se Jesus veio a Terra cumprir o plano de Deus, então, Jesus veio a Terra acabar
com a pobreza. É a única conclusão lógica.
Infelizmente,
ou melhor, felizmente, não é isso que a Bíblia ensina. Primeiro, a Bíblia em momento
algum apresenta a pobreza como algo que deveria ser combatido completamente. O
povo de Israel possuía legislação que impedia que as pessoas morressem de fome (Lv
19:9-10; Dt 24:20-21; Ex 23:10-11) e Deus realmente não desejava que houvesse
pobreza em Israel (Dt 15:4), mas o próprio Senhor reconheceu que os pobres
sempre estariam na terra (Dt 15:11). Quando chegamos ao Novo Testamento, não
vemos nenhuma preocupação da igreja em erradicar a pobreza no mundo. O que
vemos é a igreja cuidando dos seus membros, alimentação dos pobres (Atos 6:1),
mas nada efetivo para que a pobreza fosse erradicada do império. Até porque o
objetivo dos apóstolos não era a transformação social do Império, mas sim o
reino vindouro de Deus. A mente deles estava no Novo Céu e Nova Terra (Ap 21:1)
e sabiam que nessa nova ordem tudo seria diferente.
Também não
podemos nos esquecer de que Jesus era pobre. Quando um mestre da lei disse pra
Jesus que o seguiria para onde quer que fosse (Mt 8:19), a resposta de Jesus
foi “"As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o
Filho do homem não tem onde repousar a cabeça". (v. 20). Se aquele que
veio implantar o plano de Deus na terra era pobre, então, obviamente esse plano
não era erradicar a pobreza (veja também 2 Co 8:9).
O plano de
Deus para o homem é que vivêssemos para Ele e por Ele (Rm 11:36). O pecado do
homem, através da desobediência de Adão trouxe a maldição sobre nós. Todas as
outras coisas ruins são resultados dessa desobediência (Rm 5:12). Jesus Cristo
veio para reparar isso. Ele veio para que nós, que nos tornamos inimigos de
Deus, fossemos reconciliados com Deus (Rm 5:10). Jesus Cristo nos deus uma
esperança celestial (Fp 3:20).
Em resumo,
em nenhum dos 27 livros do Novo Testamento vamos encontrar qualquer referencia
bíblica que indique que o plano de Deus para o homem seja a erradicação da
pobreza.
Em última
instância, achar que o evangelho é o mesmo que erradicar a pobreza não deixa de
ser uma visão sociológica e mais requintada da boa e velha teologia da
prosperidade. E o mais triste é que por muitas vezes eu já vi esse mesmo
pastor/deputado falando de púlpito contra a teologia da prosperidade. Coerência
não é exatamente o lado mais forte da política brasileira.
2 comentários:
olá Maurilo
Assim como eu tenho muitas vezes recorrido aqui para criticar algumas das suas interpretações da Bíblia. Quero elogiar pelas palavras que usou neste tema. Parabéns.
Olá Luís. Obrigado. Sei que discordamos em pontos centrais sobre a Bíblia, mas sei também que devemos concordar em muitas outras coisas.
Abraços.
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