Tenho trabalhado com evangelismo por mais de 10 anos. Mas poderia dizer que, de certa forma, meu ministério sempre foi evangelismo ou relacionado com evangelismo. Eu me lembro de, mesmo como Testemunha de Jeová, estar me preparando para compartilhar “as boas novas do Reino de Jeová”. Depois, quando me converti ao verdadeiro cristianismo, uma das primeiras atividades que me envolvi foi o evangelismo do 15 de Novembro (não tão logo, já que me converti em janeiro). Tentei um pouco me envolver com música, o que até obtive um certo êxito, mas logo fui para o ministério de teatro Grupo Mensagem e grande parte das apresentações eram fora da igreja. Era uma forma de apresentar o evangelho sem me envolver diretamente com as pessoas. Alguns anos depois e em outra igreja, me envolvi com a Jocum e mergulhei diretamente no evangelismo. E isso já faz mais de 10 anos.
Em toda essa jornada, o foco sempre foi no “fazer evangelismo”. Como sair pra rua, como abordar as pessoas. O que falar? O que não falar? Resumidamente: como aplicar o evangelismo à minha vida?
Essa é uma pergunta importante, sem a menor sombra de dúvidas. As pessoas sempre me perguntam sobre isso quando falamos sobre evangelismo. Mas pouca gente nesses anos já me perguntou sobre “a teologia do evangelismo”. Existe interesse na aplicação. Mas poucos percebem que antes da aplicação, vem o conhecimento.
Trabalhei com muitos missionários, de vários países, de muitos ministérios. Poucos demonstravam essa preocupação. Talvez isso tenha a ver com um certo desdém que o movimento evangélico tem em relação à teologia. Muitos a consideram como uma forma de “racionalizar” a fé. Eu também já pensei assim. Talvez também tenha algo a ver com um hábito da igreja do entender a Bíblia como um grande livro de aplicações, com textos soltos (versículos) que possuem aplicações imediatas sem grande reflexão. Eu também já pensei assim. Seja qual for a razão, essa falta de pensamento teológico em relação ao evangelismo trabalha contra o próprio empreendimento do evangelismo.
Mas evangelismo não é só falar para as pessoas “Jesus te ama” e “você pode aceitar Jesus em seu coração” fazendo a “oração do pecador”? Não, evangelismo não é só isso. É muito mais do que isso.
A teologia é essencial para o evangelismo. A teologia motiva, dirige e sustenta o cristão na hora de compartilhar sua fé.
Ela motiva quando nos diz porque devemos evangelizar. Muitos não se preocupam em pregar o evangelho simplesmente porque ignoram (ou querem ignorar) o destino final daqueles que morrem em seus pecados (Hebreus 10:31; Marcos 9:47). Nos motiva quando nos comanda a pregar o evangelho (Mateus 28:19; Marcos 16:15 e outros), quando nos informa que há alegria no céu em relação ao pecador que se converte (Lucas 15:7), quando nos diz que aqueles que amam Jesus obedecem seus mandamentos (João 14:21).
A teologia nos dirige no evangelismo quando nos informa sobre o que é a salvação (2 Coríntios 5:21), do que somos salvos (Romanos 1:18), por quem somos salvos (Atos 13:23), para o que somos salvos (2 Timóteo 4:18) e como devemos responder a essa salvação (1 Pedro 4:10). Nos dirige quando declara que a Lei do Senhor é perfeita e converte a alma (Salmo 19:7) e nos mostra que quem converte o ser humano não somos nós, mas o Espírito Santo (João 16:8). Nos dirige prevenindo o erro na apresentação do evangelho (Gálatas 1:7).
E ela nos sustenta quando declara quem é Deus (Deuteronômio 6:4), quem é Jesus (Mateus 16:16), quais são as nossas crenças (1 Pedro 3:15) e nos guarda de ser enganados. Nos sustenta quando nos defende de crenças erradas e nos dá confiança para proclamar a mensagem do evangelho (Romanos 1:16).
Só poderemos ter uma correta aplicação do evangelismo quando tivermos crenças corretas em relação ao cristianismo. Sem teologia, o evangelismo é fraco, supérfluo e ineficaz. Causa medo, insegurança e desinteresse naqueles que deveriam fazê-lo.
A crença correta, leva a prática correta. Uma teologia correta, leva a um evangelismo correto.
Se você quer ser um servo melhor, que maneja bem a Palavra da verdade (2 Timóteo 2:15), prepare-se. Estude teologia e leve essa teologia para a rua.
Quero terminar com uma frase de J. I Packer sobre esse assunto. A relação de dependência entre teologia e evangelismo. Um precisa do outro.
“Evangelismo e teologia na maioria das vezes andam em caminhos separados e o resultado é uma grande perda para ambos. Quando a teologia não é mantida no curso pelas demandas da comunicação evangelística, ela cresce abstrata e especulativa, desobediente em seus métodos, teórica em interesse e irresponsável em sua postura. Quando o evangelismo não é fertilizado, alimentado e controlado pela teologia, se torna uma performance estilizada buscando seus efeitos através de habilidades manipulativas ao invés do poder da visão e da força da verdade. Tanto a teologia quanto o evangelismo, de forma importante, se tornam irreais, falsos à própria natureza que Deus lhes deu; toda a verdadeira teologia tem uma impulsão evangelística e todo verdadeiro evangelismo é teologia em ação.”
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