segunda-feira, novembro 15, 2010

O Cristianismo é Verdadeiro? - Mostrando que o Cristianismo é verdadeiro


Mostrando que o Cristianismo é verdadeiro por Matthew Flannagan

(Áudio em MP3 aqui em breve)

"Você pode mostrar que o cristianismo é verdadeiro?" Para nos ajudar a concentrar o nosso pensamento quanto à forma como se deve responder a essa pergunta, vou colocar algumas outras questões a seguir. Você pode mostrar que existem outras pessoas ou que existe um mundo que permanece independente de nossos sentidos, que continua a existir quando nós já não mais o percebemos? Pode a minha crença de que é errado infligir dor em outra pessoa por razão nenhuma ser mostrado como verdadeiro? E a minha crença na hipótese cética de Russell de que todo o universo veio à existência seis segundo atrás, incluindo todas as aparentes memórias e sinais da idade - isso é falso ou verdadeiro?

Espero que o ponto destes exemplos esteja claro. Se não queremos cair em um ceticismo global que desafia o bom senso, temos de reconhecer que existem algumas crenças que mantemos de forma racional e sabemos que são verdade e que, no entanto, não podem ser mostradas ou provadas como verdadeiras a partir de premissas que todas as pessoas inteligentes são obrigadas a aceitar. Na verdade, ironicamente, a alegação de que alguém só é racional quando acredita em algo a menos que isso possa ser demonstrado a partir de premissas verdadeiras, as quais todas as pessoas sãs são obrigados a aceitar, é auto-refutante, afinal, muitas pessoas sãs rejeitam essa hipótese e ela ainda tem de ser demonstrada como verdade a partir de premissas que todas as pessoas sãs devem aceitar.

No entanto, uma pessoal é racional em aceitar algumas crenças independente de qualquer argumento que mostre a verdade dessas crenças; os filósofos chamam essas crenças de crenças propriamente básicas. Essas crenças funcionam normalmente como crenças fundamentais, uma pessoa raciocina a partir delas como premissas para a verdade de outras proposições que a pessoa tem. Da mesma forma, elas funcionam como os dados básicos contra os quais se avalia hipóteses propostas para aceitação. Elas surgem porque os apelos contínuos de premissas para provar premissas para provar premissas têm que terminar em algum lugar. Crenças fundamentais corretas constituem as crenças nas quais se é racional que os apelos por provas cessem.

É preciso observar que crenças fundamentais básicas não são infundadas. Enquanto não acreditamos em uma crença básica baseada em uma inferência, as crenças básicas são muitas vezes baseadas em alguma forma de experiência. Alvin Plantinga compreende dois tipos de experiências, a "evidência dos sentidos", coisas que podemos ver, ouvir ou sentir em um determinado objeto e "evidência doxástica", que ele se refere como "a crença que parece correta, aceitável e natural."1 Crenças doxásticas parecem ser auto-evidentes. Um exemplo de tal crença é a condição correspondente do modus ponens. Quando uma pessoa cumpre as condições do modus ponens, isso simplesmente parece ser correto. Modus ponens parece auto-evidente de uma forma que uma inferência abertamente falaciosa não. É esse tipo de experiência que dá base às crenças básicas.

Muitos filósofos e teólogos como Calvino, Pascal, Alston e Plantinga sustentam que certas crenças teológicas são por si mesmas básicas. A crença na existência de Deus é, do ponto de vista do crente, apropriadamente básica e fundamentada diretamente em alguma forma de experiência religiosa, pelo que é justificado e racional acreditar nessas doutrinas, independentemente de qualquer argumento em favor delas. Embora eu não possa elaborá-lo em um pequeno artigo, estou fundamentalmente de acordo com essa posição. A requisição, então, que os cristãos mostrem ou demonstrem que o cristianismo é verdadeiro, muitas vezes se baseia em uma premissa que eu acho que está enganada, este pressuposto é que a crença racional cristã requer que os argumentos ou provas sejam fornecidas para o Cristianismo e não fornecê-las faz do crente um ser irracional.

Há uma outra questão mais moderada que se esconde em volta. Se alguém aceitar que o crente é racional em aceitar a fé cristã de uma maneira propriamente básica, então que motivos o crente pode dar para aqueles que não possuem as mesmas crenças básicas para aceitar a fé cristã? Talvez algumas pessoas, com base em algum tipo de experiência religiosa, tenham de imediato crenças propriamente básicas, mas muitas pessoas não venham a ter esse tipo de experiência - que motivo pode ser dado a elas para a aceitação da fé cristã? Este problema exasperasse pelo fato de que é extremamente difícil demonstrar a verdade das crenças fundamentais, precisamente porque são crenças fundamentais. Para provar alguma coisa é preciso apelar para premissas e toda a questão neste caso é sobre quais premissas básicas aceitar. Como, então, mostrar para essas pessoas que o cristianismo é verdadeiro?

Eu acho que várias estratégias estão disponíveis, mas por falta de espaço vou apenas esboça-las brevemente aqui.

Primeiro, em muitos casos, pode-se mostrar que o cristianismo é verdade refutando-se objeções à fé cristã. Crenças propriamente básicas são crenças que se é racional acreditar independentemente de qualquer argumento para elas na ausência de boas razões que as afirmem. Isso não significa, porém, que essas crenças não podem ser derrotadas por razões oferecidas contra elas. Se eu vejo o João cerrando o rosto e agarrando sua perna, eu poderia formar a convicção de que João está com dor. No entanto, se depois ele me diz que não estava com dor, mas ensaiando sua cena de morte em uma peça que ele está atuando, eu poderia mudar a minha crença para acreditar que ele não estava com dor. A crença inicial de que ele estava com dor era propriamente básica, no entanto, por causa do que eu descobri mais tarde, sua posição racional foi derrotada.

Acredito que muitas pessoas estão em uma posição análoga à várias crenças cristãs, eles as rejeitam não porque não achem que elas sejam verdadeiras, mas porque aceitam várias objeções a essas crenças. Considere a seguinte frase de Richard Dawkins “apesar das aparências em contrário, o único relojoeiro na natureza são as forças cegas da física, ainda que organizadas de uma forma muito especial... é um relojoeiro cego." O que é interessante aqui é a frase "apesar das aparências em contrário", Dawkins admite que, prima facie, o mundo aparece e parece que foi projetado e na ausência de qualquer razão para negar tal coisa, então a observação natural é dizer que ele o é. Dawkins sugere, no entanto, que as aparências enganam porque a ciência tem alegadamente fornecido refutações para essa crença. Mostrar em tal contexto que os argumentos de Dawkins são errados permite que as pessoas aceitem essas aparências.

A segunda linha de argumento é mostrar que várias alternativas ao cristianismo são falsas. Muitas vezes as pessoas não conseguem ver a verdade do cristianismo porque aceitam as visões equivocadas do mundo e equivocadas normas epistêmicas tais como aquelas associadas com o naturalismo. Eles podem experimentar a presença de Deus na natureza, mas acreditam que isso é uma ilusão, porque eles estão convencidos de que nada existe além da natureza. Eles podem pensar que somente as coisas que podem ser demonstradas empiricamente podem ser racionalmente cridas e essas experiências são uma ilusão fomentadas pela evolução para assegurar a cooperação social. Mostrar que essas imagens da realidade são falsas os ajuda a reexaminar a natureza dessas experiências verídicas. Refutar alternativas ao cristianismo oferece uma outra dinâmica para ver a verdade do cristianismo.

As pessoas têm que viver de acordo com alguma visão de mundo. Por questões práticas, não se pode permanecer agnóstico em relação a muitas questões existenciais. Se todas as alternativas viáveis para o cristianismo podem ser mostradas como implausíveis, então, o cristianismo tem de ser levado a sério por pessoas que não podem, na prática, viver uma vida de suspensão de julgamento sobre questões importantes.

Terceiro, mesmo que uma pessoa não aceite uma dada proposição ela ainda pode raciocinar sobre tais crenças. Alguém pode raciocinar "condicionalmente",2 se tal pessoa aceite certas premissas ou proposições como as crenças propriamente básicas. Então outras posições, hipóteses e teorias são igualadas e as pessoas de todos os lados da disputa podem avaliar e debater se o raciocínio é consistente. Plantinga afirma:

As conclusões da ciência teísta podem não ser aceitas pelos não-teístas, mas o método - tentar ver a melhor forma de explicar os fenômenos relevantes do ponto de vista teísta - é realmente aberto para todos.3

Pode-se mostrar que quando se raciocina pelo ponto de vista teísta algumas questões existenciais e teóricas podem receber respostas coerentes. Alguém pode explicar coisas como a origem do universo, a existência de entidades contingentes, a existência e a natureza da obrigação moral, a existência de leis da natureza, questões existenciais sobre culpa, perdão e assim por diante. Plantinga observa que a existência de Deus importa “uma grande unidade para o empreendimento filosófico e a idéia de Deus ajuda com uma variedade surpreendentemente larga de casos: epistemológicos, ontológicos, éticos, que têm a ver com significado, e coisas do tipo".4 Mostrar que se alguem aceita o teísmo, então respostas plausíveis, fundamentadas, abrangentes e unificadas estão disponíveis para o que seriam perguntas intratáveis, fornece uma maneira de mostrar aos outros por que eles deveriam aceitar a crença em Deus como uma crença propriamente básica.

A quarta e última maneira é colocar a pessoa em uma posição em que ela provavelmente terá uma experiência necessária que fundamenta crenças teológicas propriamente básicas. Suponha que eu veja uma árvore no parque e minha esposa me pede para mostrar-lhe que esta árvore existe. A maneira mais óbvia de fazer isso não é construir uma prova para a existência de uma árvore, mas levá-la ao parque e mostrar-lhe a árvore. Da mesma forma, muitas pessoas não conseguem absorver os axiomas auto-evidentes da lógica porque elas não conseguem entendê-los, mas quando estes são explicados, se tornam auto-evidente. O mesmo acontece com a crença cristã. Uma forma de mostrar para os agnósticos a verdade do cristianismo é colocá-los em circunstâncias nas quais, se estivermos atentos, é provável que eles comecem a ver a verdade.

Pode-se explicar as Escrituras para eles, incentivá-los a buscar Deus em oração - isso é semelhante à forma como uma pessoa perdida no mato pode chamar por salvamento, mesmo se ele ou ela não tem certeza se alguém o estava procurando. Pode-se incentivá-los a participar no estudo das Escrituras enquanto levem a sério a possibilidade de que elas são a palavra de Deus. A pessoa poderia se envolver em uma comunidade de crentes onde Deus habita e trabalha, onde a pessoa pode ser encorajada a viver de acordo com a lei moral e honestamente confessar suas falhas e buscar o perdão por seus erros morais. Pascal apresentou este ponto em sua famosa aposta, enquanto um agnóstico não pode simplesmente optar por acreditar em algo que ele não acredita, ele pode optar por olhar, por procurar e por entender. Quando o agnóstico sinceramente faz isso, é provável que ele virá a experimentar Deus. Assim como uma pessoa que tenta entender a lógica vai ver porque seus axiomas são auto-evidentes ou uma pessoa que realmente procura pelo parque verá que há uma árvore ali.

Concluindo, as doutrinas básicas do cristianismo, se forem verdade, constituem crenças fundamentais básicas corretas. Não se acredita nelas com base em argumentos ou provas já que elas se baseiam diretamente na experiência. Normalmente é muito difícil provar, com argumentos, que uma crença fundamental é verdade, mas sua verdade pode ser mostrada de outras formas indiretas. Pode-se argumentar que os argumentos contra tais crenças são falsos, pode-se argumentar que as alternativas para aceitá-las são falsas ou problemáticas, e pode-se mostrar que se alguém aceita o Cristianismo, então essas crenças fazem sentido de forma coerente com o mundo, elas fornecem respostas abrangentes a muitas questões teóricas e existenciais. Finalmente, no contexto de tudo que foi colocado acima, pode-se ajudar o cético a adotar a postura de um buscador sincero, para levá-lo a um tipo de posicionamento em que ele pode vir a ter o requisitado encontro com Deus, a fim de ver que o cristianismo é verdade. Esta é, no final das contas, como alguém pode mostrar que o cristianismo é verdade.

1 Alvin Plantinga Warranted Christian Belief (New York: Oxford University Press, 2000) 110-111.
2 See Alvin Plantinga “Creation and Evolution: A Modest Proposal” in Darwinism Design and Public Education ed John Angus Campbell & Stephen C Meyer (East Lansing: Michigan State University Press, 2004) 521-232; “Reason and Scripture Scholarship” in Behind the Text: History and Biblical Interpretation ed C Bartholomew, C Stephen. Evans, Mary Healy & Murray Rae (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2003) 98-100.
3 Alvin Plantinga “On Rejecting The Theory of Common Ancestry: A Reply to Hasker” Perspectives on Science and Christian Faith 44 (December 1992): 258-263.
4 Alvin Plantinga “Two Dozen or so Theistic Arguments” accessed 7 March 2010.

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Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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