Finalmente
duas postagens na mesma semana. E olha que essa segunda quase não aconteceu,
com a semana corrida. Mas estou feliz que minhas férias estão chegando e talvez
eu consiga publica mais.
Eu quero
escrever hoje sobre uma prática que tenho visto no meio evangélico,
especialmente no meio neo-pentecostal cool, que é definir a importância de um
assunto na Bíblia pela quantidade de vezes que uma palavra aparece nas
Escrituras. Eu já vi isso um punhado de vezes por aí. Apesar da repetição de um
termo ter certa importância (e um apelo retórico) apenas essa repetição não
define a importância do termo dentro do contexto geral.
Por
exemplo, em um recente texto um pastor-deputado (temos tido vários deles
ultimamente) disse que “há mais de dois mil versículos na Bíblia falando sobre
o cuidado com os pobres e aproximadamente seis tratando sobre homossexualidade”.
A ideia do pastor-deputado (ainda quero escrever sobre essa “novidade”) é que
como a Bíblia tem mais textos sobre o cuidado com o pobre, então esse é um
assunto muito mais importante e a igreja deveria se focar nisso, não em coisas
menores, como o homossexualismo.
Em um
primeiro momento isso até pode fazer sentido. Se eu tenho mais versículos
falando sobre um assunto do que outro, então esse assunto deve ser mais
importante. Certo?
Errado!
Primeiro, a
Bíblia não é um livro de versículos soltos, desconexos que pouco se relacionam
dentro de um contexto. Existe uma história da redenção do homem, através da
obra de Deus que tem começo, meio e fim. O único livro da Bíblia que você pode ler
sem se preocupar demais com o contexto é Provérbios e ainda assim não
recomendo. E quando um texto é lido dentro de seu contexto, tanto literário
quanto histórico, o que define a importância de um tema não é a quantidade de
vezes que ele aparece, mas sim em que contexto ele aparece.
Teve um
período que eu tentei aprender SEO (otimização para motores de busca) para
aumentar o tráfego no blog. Eu não me dei muito bem com isso, apesar de ter dobrado
o número de visitas em menos de um mês, mas eu aprendi que parte do que faz o
Google dar uma boa coloção para um site em uma busca é a relevância da palavra
buscada dentro da página. Por exemplo, pesquise no Google “testemunhas de Jeová
Michael Jackson” e você vai ver o nosso blog na primeira página. Alguns anos
atrás, estávamos na primeira posição; hoje estamos em nono, mas está bom. Um
truque que algumas pessoas usam para tentar enganar os robôs do Google é escrever
várias vezes a palavra chave de forma escondida na página, seja no cabeçalho da
página que aparece apenas para os robôs seja ao longo da página na mesma cor do
fundo da página, o que não aparece para na tela. Mas aí reside a beleza do robô
do Google. Ele reconhece não apenas quantas vezes uma palavra aparece no texto,
mas também a relevância da palavra dentro do contexto. Como o robô faz isso? Eu
não tenho ideia. Se soubesse, provavelmente estaria rico. Mas ele faz isso
muito bem.
Portanto,
apenas o número de vezes que uma palavra aparece não define a sua importância.
O que nos
leva ao segundo ponto problemático dessa abordagem: ela leva a conclusões esdrúxulas.
Eu sou um
analista e como bom analista, preciso de dados. Então, resolvi colocar esse
método de teologia numérica (termo meu) à prova. Fiz um levantamento das
palavras que mais aparecem na Bíblia e correlacionei esse número com o número
de palavras totais na Bíblia. Como eu fiz isso em inglês, os valores podem
ficar um pouco diferente do português, mas eu acho que é estatisticamente correto
(bonito né?).
Em inglês,
na versão King James, a Bíblia possui 774.746 palavras, somados Velho e Novo
Testamento.
Qual é a
palavra que mais aparece na Bíblia? Ao contrário do que muita gente fica
pregando por aí, não é amor, mas a palavra “e”. Faz sentido né? Ela aparece 28.364
vezes, ou seja 3,66%. Será que o tema mais importante da Bíblia é a conjunção “e”?
Acho que poucos teólogos numerólogos iriam tão longe. E outras palavras mais
interessantes? Vamos lá
- Pobre 197 0.02543%
- Amor 281 0.03627%
- Morte 346 0.04466%
- Santo 544 0.07022%
- Céu 551 0.07112%
- Mau 569 0.07344%
- Criança 1.727 0.22291%
- Casa 1.840 0.23750%
- Israel 2.301 0.29700%
- Deus 4.293 0.55412%
Veja que a
importância do amor na Bíblia é de apenas 0,036%. “Casa” é mais importante que “amor”
na Bíblia, segundo a teologia numérica. O "pobre", coitado, só importa em 0,025%
dos casos.
"Jesus" aparece apenas 942 vezes, ou 0,12%. E eu achando que Jesus era o foco de toda a
Bíblia.
Essa
abordagem se demonstra claramente falha. O número de vezes que uma palavra
aparece na Bíblia, apesar de ser um indicativo, não define de forma alguma a
importância dessa palavra ou temo nas Escrituras.
Apenas
através do estudo da Bíblia dentro de seu contexto literário e histórico (ou
seja, uma boa hermenêutica) podemos descobrir a importância de cada tópico.
Não se
deixe enganar com atalhos teológicos. Eles sempre levam a becos perigosos. E
confusos.
Um comentário:
Tirando a poeira do meu cantinho, resolvi passar por aqui para matar as saudades...
O importante é buscarmos a cada dia mais o estudo da Palavra verdadeira nos últimos tempos para nos livrar dos "homens de Deus" que andam por aí.
Bj e fk c Deus.
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