domingo, agosto 07, 2011

Todas as Religiões levam a Deus?



Talvez você tenha ouvido a parábola dos seis homens cegos e o elefante. Nessa parábola, seis homens cegos sentem partes diferentes do elefante e chegam a conclusões diferentes sobre o que o elefante realmente é.

Um dos cegos pega a presa do elefante e diz “o elefante é como uma lança!” Outro que segurava a tromba concluiu “o elefante é como uma cobra!” O cego que segurava a perna pensou “o elefante é como uma árvore!” Aquele que agarrava o rabo afirmou “o elefante é como uma corda!” Um outro que segurava a orelha acreditava que “o elefante é como um leque!” E o último cego que se escorava na lateral do elefante exclamou “o elefante é como uma parede!”

Essa parábola é muitas vezes usada para ilustrar a visão conhecida como pluralismo religioso. Como os homens cegos, nenhum religião possui a verdade. Pelo contrário, todas as religiões são verdadeiras em sua descrição de suas próprias experiências e realidade espiritual que encontram, dado as variadas experiências históricas e culturais.

Existem vários tipos de pluralismo religioso, mas uma forma de defini-lo é o seguinte: “a visão que todos os caminhos religiosos – certamente os maiores e mais éticos – levam a Deus ou a uma realidade máxima e salvação.”1 Essa ideia é comumente refletida em frases como “todas as religiões basicamente ensinam a mesma coisa” ou “todos os caminhos levam a Deus.”

A parábola do elefante, apesar de parecer bem atrativa, sofre de muitos problemas:

Problema 1: A parábola é uma analogia, não um argumento.
Um argumento é uma conclusão apoiada por razão e evidência. Mas veja que a parábola do elefante é simplesmente uma analogia (ou ilustração). Nenhum argumento, evidência ou razão é dada para que acreditemos que todas as religiões são verdadeiras. A analogia do elefante é simplesmente uma história. Mas a história pode ser falsa! Em outras palavras,
Um problema com essa analogia dos caminhos (ou elefante e os homens cegos) é que analogias não provam uma questão, apenas a ilustram. Apesar serem poderosas, elas podem simplesmente ilustrar ideias falsas, enganosas.2
De fato, um cristão pode facilmente conceber uma analogia que “prova” a veracidade da fé cristã:
Vamos mudar a analogia: se Jesus é verdadeiramente o único caminho, talvez as religiões do mundo sejam como um labirinto com apenas uma única saída correta; e se Deus, através de Jesus Cristo entrasse no labirinto e nos ajudasse a caminhar para fora?3
Essa analogia não prova que o cristianismo é de fato verdadeiro, prova? Da mesma forma, o pluralistas religiosos precisam apresentar mais coisas do que apenas ilustrações.

Problema 2: O pluralismo religioso é evidentemente falso.
Todas as religiões são basicamente iguais, exceto quando se referem a natureza de Deus, a natureza do homem, pecado, salvação e a vida após a morte. Em outras palavras, todas as religiões não são basicamente iguais! É a diferença que importa. William Lane Craig nos provê essa dura critica para aquilo que ele chama de “pluralismo religioso não sofisticado”, a ideia que todas as religiões são verdadeiras e/ou ensinam basicamente a mesma coisa:
Essa visão que muitos ouvem exposta por leigos e estudantes universitários está enraizada na ignorância no que as grandes religiões do mundo ensinam. Qualquer um que tenha estudado religião comparada sabe que as visões de mundo pregadas por essas religiões são muitas vezes diametralmente opostas uma a outra. Vamos pegar islã e budismo, por exemplo. Essas visões de mundo não tem praticamente nada em comum. O Islã acredita que existe um Deus pessoal que é onipotente, onipresente e santo e que criou o mundo. Acredita que as pessoas são pecadoras e precisam do perdão de Deus, que um céu ou um inferno eterno nos aguardam na vida após a morte e devemos ganhar nossa salvação pela fé e obras justas. O Budismo nega todas essas coisas. Para o budistas clássico a realidade máxima é impessoal, o mundo não foi criado, não existe uma continuidade da alma, o final da vida não é imortalidade pessoal mas aniquilação e ideias como pecado e salvação não tem nenhum papel nisso tudo. Exemplos como esses podem ser muitos.4
O pluralismo religioso é evidentemente falso porque viola as conhecidas leis da lógica. Por exemplo, a lei da não contradição afirma que A e não-A não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Deus não pode ser tanto pessoal quanto impessoal. Deus não pode tanto existir como uma trindade e não existir como uma trindade. Já que várias religiões ensinam coisas contraditórias, todas as religiões não podem ser verdadeiras. O pluralismo religioso viola a lei da não contradição e portanto é necessariamente falso.

Problema 3: A parábola implora pela pergunta.
Lembre-se, que a questão a ser considerada é se as diferentes religiões do mundo estão ou não experimentando/descrevendo a mesma realidade ou Deus, mesmo que em um sentido limitado. Mas a parábola implica a questão por iniciar com a pressuposição que os cegos de fato estão fazendo essa exata coisa! Em outras palavras, a parábola conta sobre alguns cegos sentindo ou experimentando partes diferentes do elefante (realidade/Deus) que é a exata questão em debate.

Problema 4: A parábola comete a falácia da auto-exclusão.
O pluralista religioso que conta essa história afirma que todos são cegos, exceto o próprio pluralista religioso! Em outra palavras, existe uma perspectiva objetiva presente aqui. No entanto, se todas as visões religiosas são essencialmente cegas, isso incluiria a visão religiosa pluralista. Mas o pluralista religioso convenientemente exclui a si mesmo, tendo de alguma forma escapado a cegueira espiritual que envolveu todas as visões religiosas mas que o permitiu ver a veracidade do pluralismo religioso. Ao fazer isso, o pluralista religioso afirma ter a única perspectiva objetiva:
De fato, ele não saberia que os homens cegos estavam errados a não ser que ele tivesse uma visão objetiva daquilo que era certo! Então, se a pessoa contando a parábola pode ter uma perspectiva objetiva, porque os cegos não podem? Eles poderiam – se os cegos subitamente pudessem ver, eles também poderiam perceber que estavam originalmente errados. Na verdade era um elefante que estava na frente deles e não uma parede, um leque ou uma corda. Nós também podemos ver a verdade na religião. Infelizmente, muitos dos que negam que existe verdade nas religiões são não somente cegos mas voluntariamente cegos. Podemos não querer admitir que exista verdade na religião porque isso poderá nos condenar. Mas se abrirmos nossos olhos e pararmos de nos esconder atrás da falta de bom senso auto-refutável que diz que a verdade não pode ser conhecida, então poderemos a verdade também.5

Problema 5: A parábola refuta a si mesma.
Se todas as religiões são verdadeiras, então o cristianismo é verdadeiro. Mas se o cristianismo ensina que as religiões não cristãs são falsas, então nem todas as religiões são verdadeiras. Então, se todas as religiões são verdadeiras, nem todas as religiões são verdadeiras. Isso não pode estar certo. Vamos analisar isso melhor:

  1. Se todas as religiões são verdadeiras, então o cristianismo é verdadeiro.
  2. Todas as religiões são verdadeiras.
  3. Se o cristianismo é verdadeiro, então as religiões não cristãs são falsas.
  4. Se as religiões não cristãs são falsas, então nem toda religião é verdadeira.
  5. Portanto (de 1 e 2), o cristianismo é verdadeiro.
  6. Portanto (de 3 e 5), religiões não cristãs são falsas.
  7. Portanto (de 4 e 6), nem todas as religiões são verdadeiras.
  8. Portanto (1 até 7), se todas as religiões são verdadeiras, então nem todas as religiões são verdadeiras.
Se a sua crença leva a uma conclusão absurda, então é necessário reexaminar sua crença. A única premissa que os pluralistas religiosos poderiam negar é a premissa 3. Mas para se negar a premissa 3 é necessário não levar as afirmações do cristianismo a sério. Na verdade é uma distorção do cristianismo histórico ortodoxo que sempre afirmou que Jesus é o único caminho para a salvação. Isso levanta um ponto relacionado: os pluralistas religiosos precisam muitas vezes apelar para um tipo de reducionismo religioso para que possam manter sua visão.
Tentativas de reduzir todas as religiões para seu menor denominador comum normalmente só tem sucesso em distorcer essas religiões. Homogenizar as religiões tem um preço muito alto para pagar ao se eliminar a diversidade religiosa, porque no final das contas as religiões precisam sacrificar as principais características que as tornam únicas e atrativas em princípio.6

Problema 6: A parábola é radicalmente cética.
Ken Samples elabora sobre esse ponto:
A analogia do elefante implica um ceticismo radical em relação ao conhecimento sobre Deus; a saber, que ninguém, ou nesse caso nenhuma religião, pode conhecer Deus satisfatoriamente. Mas se Deus é de certa forma incognoscível, como alguém pode saber que Deus é incognoscível? Na verdade, por esse pensamento, alguém por acaso poderia saber se Deus existe?7
Mais ainda, os cristãos argumentariam que Deus de fato revelou a si mesmo tanto na revelação geral (criação e consciência) e na revelação especial (Escrituras e Cristo). Se o cristianismo é verdadeiro, então podemos abandonar nosso ceticismo radical em relação ao conhecimento sobre Deus em favor das afirmações radicais de Cristo: “quem me vê, vê ao Pai” (João 14:9).

Problema 7: A parábola prova o contrário.
Enquanto essa parábola é usada com a intenção de mostrar que todas as religiões são verdadeiras, extraí-se exatamente um conclusão em contrário: todas as religiões são falsas! Por que? Porque nenhum dos cegos tem uma visão correta do elefante! Ken Samples mais uma vez explica:
Ironicamente, enquanto a analogia do elefante tenta validar a verdade de todas as religiões, se levada a sua conclusão lógica a história na verdade mostra que todas as religiões falham em identificar Deus adequadamente. Portanto, ao invés de afirmar verdades religiosas, a analogia implica que todas as religiões, pelo menos em um espectro mais amplo, estão baseadas em afirmações falsas ou enganadas.8
Uma analogia que te leva a uma conclusão oposta a intencionada não pode ser uma analogia boa.

1 Kenneth Richard Samples, Without a Doubt: Answering the 20 Toughest Faith Questions (Grand Rapids: Baker, 2004), 161.
2 Paul Copan, True For You, But Not For Me: Overcoming Objections to Christian Faith, Rev. ed. (Minneapolis: Bethany House, 2009), 123.
3 Ibid.
4 William Lane Craig, Hard Questions, Real Answers (Wheaton: Crossway, 2003), 150-151.
5 Norman L. Geisler and Frank Turek, I Don't Have Enough Faith to Be an Atheist (Wheaton: Crossway, 2004), 49.
6 Samples, Without a Doubt, 164.
7 Ibid., 167.
8 Ibid.

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Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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