Devo começar esse texto dizendo que eu admiro muito a Bráulia Ribeiro, presidente nacional da Jocum. Até onde me lembro não tive oportunidade de conhecê-la pessoalmente, mas depois de mais de dez anos na Jocum como voluntário, sua presença sempre se fez sentida, especialmente nas bases do norte do Brasil. Eu a admiro pelo tempo que ela passou com as comunidades indígenas, por seu pioneirismo, por procurar uma identidade brasileira para Jocum e missões. Eu li o chamado Radical, em uma tarde na verdade, tão cativado fui pelo livro. Mas desde aquela época eu já discordava em muito das atitudes e decisões da Bráulia, especialmente porque um dos meus principais trabalhos na Jocum era com estrangeiros. Portanto existe uma ambigüidade em admirá-la e descordar em vários pontos.
Mas para minha tristeza tenho visto que cada dia mais ela tem se afastado das crenças básicas do cristianismo e dos ensinos da Bíblia para substituí-los por uma visão humanista universalista da redenção. Eu sempre observei essa tendência em seus textos, mas isso tem ficado cada vez mais evidente. E gostaria de analisar algumas afirmações em um texto de Bráulia para a revista Eclésia de fevereiro último.
No artigo intitulado “Uriás à procura de Deus”, Bráulia descreve sobre suas idas às missas com sua mãe quando morava em Belo Horizonte. E na igreja que freqüentava, algo que falava muito com ela era um Cristo que ficava na lateral, um Cristo “mulato... não havia um traço de vitória nele, era pura dor, mas era a dor da cor de todos. Não era o Cristo louro, distante, sorridente e vitorioso do capitalismo protestante de Calvino”. E “a pretura de Cristo da Igreja da Vera Cruz fez muita diferença na maneira em que eu e o povo do bairro víamos a Deus”.
Desconsiderando o comentário sobre o calvinismo, que demonstra ou uma ignorância em teologia ou uma negação em entendê-la (fico pensando quais das letras do TULIP seria o capitalismo...), já se torna preocupante imaginar que nossa visão de Deus se deriva em quão relevante podemos torná-lo para nossa cultura. Isso aponta para uma visão pequena das Escrituras, que perdem seu papel de revelação de Deus para a humanidade e passamos a nos informar sobre quem Deus é do ponto de vista de nossa cultura. Jesus é negro, é loiro, é ruivo, é asiático, é indígena. Não importa o que realmente tenha sido, mas sim o quanto podemos alterá-lo para se encaixar em nossa cultura. Essa visão emergente está se propagando no meio cristão, graças a Brian McLare, Rob Bell e companhia, mas ela já é antiga na cosmovisão da Bráulia, apesar de se apresentar de uma forma mais sutil.
Mas a frase que mais me preocupou no artigo vem a seguir. Falando sobre a canonização de um santo indígena no México, ela diz que as manifestações de preces e adoração prestadas a esse índio são na verdade uma manifestação da alma dos povos pré-colombianos, que foi machucada e “essa alma histórica precisa ser lavada socialmente antes de poder ser tocada por Cristo”.
Eu tentei de todas as formas dar a melhor interpretação possível para essa frase. Tentei imaginar um outro cenário, para que não parecesse que Bráulia disse o que disse. Mas infelizmente cheguei à inevitável conclusão que ela disse o que disse.
Eu sei que teologia nunca foi o forte na Jocum. Sei por experiência, por mais de dez anos trabalhando com a missão. Mas algumas coisas são básicas.
Por mais machucada que alguma sociedade ou cultura tenha sido, ela não precisa ser primeiro lavado socialmente para que possa depois ser tocada por Cristo. Nada tem primazia sobre Cristo, nem mesmo culturas. Achar que precisamos primeiro curar as culturas e restabelecê-las para que após isso Cristo possa agir é elevar a importância das culturas e diminuir a figura de Cristo e seu poder.
Em lugar nenhum nas Escrituras encontramos qualquer afirmação do tipo. Muito pelo contrário. Cristo vai de encontro ao pecador, ele salva, ele cura, ele faz do pecador uma nova criatura. Não existe um único versículo que de a menor idéia que algo deva proceder a ação de Cristo sobre o homem, ou mesmo a humanidade como um todo.
Esse é o grande problema de ter uma visão errada do objetivo da obra de Cristo. Ele veio para buscar e salvar o perdido. Veio para remissão dos pecados. Para nos salvar da ira de Deus e nos tornar filhos de Deus por adoção. Ele é Deus e nada precisa vir à frente de Cristo para que possa agir.
Infelizmente, Bráulia compromete sua visão sobre a obra de Cristo por causa de sua cosmovisão humanista, que eleva o homem e passa a aceitar todos os caminhos como possíveis, desde que leva à lavagem da alma. E diminui a Cristo e sua verdadeira redenção para a humanidade.
Espero que ela perceba o perigo dessa posição e se arrependa. Sua influência é muito grande na Jocum Brasil, especialmente no norte e por experiência própria sei que o que as pessoas mais precisam naquela região é de Cristo como ele se revelou nas Escrituras, pronto a nos perdoar de nossos pecados.
Ps: Eu sei que muita gente vai ficar brava com essa postagem, especialmente por respeito à Braulia e seu trabalho. Não estou escrevendo esse post simplesmente por escrever, mas sim por uma verdadeira preocupação com as crenças de um grupo que tem estado na frente de batalha do cristianismo e um grupo influente. Ficarei feliz se perceber que exagerei nas minhas afirmações e pubicarei alegremente um post sobre isso, se for verdade. Mas infelizmente, não é isso que tenho visto.
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